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abril 11, 2011

Entre retratos

As exposições que estão em cartaz do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro Retratos do Império e do exílio e Vídeo-portraits de Robert Wilson apresentam séries de imagens de diferentes contextos históricos, entretanto é possível estabelecer um diálogo entre as duas exposições e uma reflexão interessante sobre o que é o retrato.

A primeira apresenta retratos da família imperial brasileira com imagens fotográficas que marcaram o Império, como as comemorações do fim da Guerra do Paraguai, a abolição da escravatura e momentos íntimos da família imperial brasileira.

Alberto Henschel & CIA., M.Ribeiro, Princesa Isabel, Conde D’Eu e os filhos D.Pedro de Alcântara, Príncipe do Grão Pará, D.Luís Maria e D.Antônio Gastão, C.1884

Nessas imagens, podemos observar a pose e conhecer  o figurino, a mobília e o penteado de época das personalidades que governaram o Brasil. Os elementos cenográficos que compõem as fotografias também eram utilizados como recurso técnico de apoio aos retratados devido ao longo tempo de exposição em que eles tinham que permanecer quase imóveis em frente à câmera, pois, sem esses recursos, os movimentos mínimos poderiam aparecer nos retratos como borrões ou vultos. Como nesta imagem ao lado, onde a princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, aparece com os filhos e o marido num momento de afeto.        

Já a exposição  Vídeo-portraits de Robert Wilson apresenta 14 obras que retratam celebridades e anônimos caracterizados por um formato que vai além da fotografia convencional, pois trata-se da exibição de vídeo-retratos de alta definição.

Esses vídeos consistem em filmagens dirigidas por Wilson onde essas celebridades interpretam cenas que fizeram parte da história da arte, da música, da literatura, entre outras.

Johnny Depp aparece no vídeo-retrato reproduzindo uma fotografia de Marcel Duchamp retratado por Man Ray em 1921

 

Ao ver o video-retrato de Johnny Depp, podemos conferir a performance que o artista realiza: ele se posiciona em frente a câmera por cerca de dez minutos e neste ato os únicos movimentos percebidos pelo expectador são a respiração e o piscar de olhos, uma vez que o ator se mantém estático como numa fotografia.

No primeiro caso, o tempo do retratado em frente à câmera se dá pela questão técnica de captura da imagem, no segundo, a pose estática ocorre por questões conceituais relativas ao trabalho de Wilson. Nele, o artista subverte um recurso de registro de movimento para produzir uma imagem fotográfica.

 Essas exposições são uma boa oportunidade para refletir sobre o conceito de retrato no século XIX e de como é pensado e produzido na arte contemporânea.

 Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro.

Retratos do Império e do exílio – Até 29/05
Vídeo-portraits de Robert Wilson – Até 15/05